LÉO VINCEY - POETA,CRONISTA,CONTISTA ,LOCUTOR...


segunda-feira, 30 de junho de 2014

O poema...

Na teia da palavra
Anotações aqui e ali
Busco um poema perdido
Apalavrado em mim
Foi-se inspiração
Foi-se transpiração
Foi-se qualquer tentativa
Ceifar de ideias na poesia
A palavra é meu gigolô
Puto dela,humilde por conivência
Sirvo a essa senhora
Para mim as mais sórdidas
( ela me oferece )
Outras nem tanto
Raríssimas,as de alívio
Na construção da poesia uma teima,um tema a colidir com a vontade
Quero tanto um poema-novo
Desses que atravessam séculos
Desses que a todos encanta
Um poema assim ainda nascerá
( somos tantos,vozes me dizem )
Serei o autor?
A palavra de mim gargalha
Como dona de mim avança
Com o chicote lambe minha alma
Quero mais !
Quero mais !
( grito )
A poesia que se exploda
( heresia,dirão alguns )
Quero o poema
Na sanha dessa busca
Paro,olho uma criança a saborear o miolo de pão
Sinto o cheiro,o sabor,a alegria,o prazer...
Eis aí o poema,intenso como a vida
Largo a caneta e minhas retinas não saem dessa criança


domingo, 29 de junho de 2014

Tardes de domingo...

O que dizer numa ou de uma tarde de domingo?
A rua,lá fora,mesmice calculada
Pessoas descansando do almoço barulhento
Amigos rindo,comemorando o agora um dia passado
Bolas aquecem a alegria de mãos e pés
Senhores sisudos relembram,refletem áureos tempos nos bancos das praças
Etilicamente alguém se afoga
Olhos vigiam crianças brincando,acalentam o sono dos anjinhos
Um homem solitário à espera do que todos buscam
O que todos buscam
Mistério nessa tarde não revelado
O que fazer numa tarde de domingo?
Mãos farfalham em outras mãos
Bocas se tocam num suspiro profundo
Ah, tardes de domingo

Teu pesadelo é uma segunda-feira

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Preciso de ti...

A mesma frase tantas vezes dita
Lugar-comum em nossa história
De ti os olhos marejados em mim
Brilho constante no calor dos abraços teus
A felicidade,efêmera riqueza,combustível
Do infinito da vontade dos meus dias,
Anda a espreitar-me em qualquer esquina
Na precisão das linhas do teu corpo
Escalavra os sentidos no tatear do ser
O prazer que de ti sorvo
Solidão,se há,é na multidão de mim
Faces do teu querer
Descoberta de nós dois
Certeza inquestionável do amar
Tiro no escuro a furar a nuvem da verdade
Verdade é que sem ti não sou nada
Nada querendo tudo no universo de tua boca
Depois,só o pó de nós

Poeira a alimentar o amor

terça-feira, 24 de junho de 2014

Juras...

Juro, é de coração, pode confiar
Toda vez e às vezes ele dizia
O que escorria de sua língua a passear nos poros da imaginação
Cada ato um ato a se redimir
Na inconstância do sentir revigorava a promessa
Bílis a adocicar o querer
O amor vive de si mesmo
Segura em sua redoma de fantasias ela estava
No calor dos beijos, abraços e carícias, o esquecimento
O corpo forte frágil a esconder o segredo
Ilusão ganhando forma, cor, vontade e desejo
Eu te amo, tu bem o sabes
Hipócrates a rir no túmulo
Juro que o que te digo agora é no agora de nós
Pouco importa o ontem e o depois
Juro que de constantes juras, novas ou não, te direi: é de coração, pode confiar
Nela um riso
Segredo a se revelar
Ela o tem nas mãos
Amar, domínio dela
O amor, ah o amor, cada um o vive a sua maneira



terça-feira, 17 de junho de 2014

O estorvo...

Nasci pra ser triste, não tem jeito
Trago em mim muitas marcas no peito
A dor se em ti incomoda, a mim ela é ínfima
Acostumado a sofrer,sonho com o riso distante
Sonho,caso raro que me resta
Na  minha procura o sistema entra em pane
Filiação,carteira de trabalho,pis ,pasep,rg
Pessoa ( que luxo ser chamado assim  ) não encontrada,nada consta
Tudo negativo consta
Fui marcado pelo universo ou qualquer coisa que acredite
Falsário de mim ,vivo
Onde quer que eu esteja,solidão
Refúgio alegre a acariciar minhas horas
Família
Amigos
Amor...
Vale o esforço,refrigera a alma
Só é possível contar consigo mesmo
Serei o único a me sentir assim?

Praga de mim,reflexo de quem me vê

domingo, 15 de junho de 2014

A ti,amor...

As mãos entrelaçadas em comunhão
Promessa que nós dois sempre fizemos
Lembranças carregadas, carinhos que nos seguem
Meus dedos passeiam em teus braços, encontram os olhos com um afago
No teu olhar minha aflição acalma
Todas as minhas angústias têm fim
Tu és mulher parceira que em meus sonhos caminha antes de eu nascer
Estar contigo é tornar os espinhos da vida flores
Só nós sabemos os monstros que derrotamos
Lembro a primeira vez que te vi, fui tomado por ti
Senti o sabor do que é viver
As páginas de nossas vidas são coloridas
A ti, por ti,  amor, dedico os meus dias


sábado, 14 de junho de 2014

Escravo do amor...

Oferendas a todo instante a ti se apresenta
Sempre há e é o momento de reconhecer
Servo e submisso com fervor
Nobre submissão, sinal de fortaleza
Há que se ter cuidado com as palavras
Mostrar através delas mundos, sonhos, vontades
Amor, sentir de mão dupla
Colisão mais que desejada
As dores, os ferimentos, as vítimas...
( quanta ingenuidade!!! )
Que tudo se exploda e renasça
Assim é a vida
Sigo o ciclo, deixo que o amor me conduza
Inferno ou Paraíso, pouco me importa
Aquele olhar, aquele perfume, a boca, as mãos, os pés, um quê que acende a chama
Oferenda a ti sou, Amor,
Escravo e Senhor de teus desígnios
Como escravo sigo tuas ordens, sou só coração
Muitos de ti já falaram, na multidão me diluo
Como senhor estou fadado a falir
De todos meus bens desfaço
A ti Amor retorno, não importa os caminhos
Tu me encontras

Em tuas mãos me agarro

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Inspiração...

O vento a soprar mundos, cores, emoções, vida...
Intenso o ar aqui na asfixia do ser
Não dizer com palavras, a condução do objeto poesia
Estado a enlevar além dos olhos, atingindo cada poro
Cravo em mim essa vontade
Quem a impôs em nós?
Vivo a cada palavra a labirinto de mim e de nós
Partilhando as emoções da alma sobrevivo
Alma sem corpo a flutuar no teu ar
No papel não fico
Sou palavras com asas
( minúsculas e quebradas )
Desconheço o voo que faço
Se é abismo, espinhos ou silêncio, onde puder esbarro
Nasci assim defeituoso
Quem a impôs em nós?
Veneno e antídoto que me consome
Estarás aqui no pós pó de mim



segunda-feira, 9 de junho de 2014

Sen(s)ações...

Aquela vontade imensa de libertar-se
Esvaziar a mente, abrir lentamente as asas e voar
Um voar assim além do corpo por entre as nuvens de si
Mergulho no eu infindável, sensações a dividir o ar
Rarefeito o desejo a verdade a desvendar-se, faces de cada um
Aquele olhar convidativo, luz na claridade a destarcar-se
Ímã a aderir no ferro de mim, o teu gosto
Como explicar a sensação do sentir que se tem?
Brigar com as palavras, ser lugar-comum, ter o efeito inverso do pretendido
Assim sou eu diante de ti,cada parte tua é épica
Herói ou vilão, deus ou semideus, homem ou nada
Qualquer coisa que eu me chame, rótulos aquém ou além de mim
Como explicar a sensação do sentir que se tem?
Aquela vontade imensa de libertar-se
Esvaziar a mente, abrir lentamente as asas e voar
Um voar assim além do corpo por entre as nuvens de si
Mergulho no eu infindável, sensações a dividir o ar
Sou assim diante de ti
Um desfolhar de mim a cobrir em ti
Sen(s)ações


domingo, 8 de junho de 2014

Nossos afagos...

Memória auditiva em repetições frequentes
O som do perfume a anestesiar a dor
O gosto da cor em teus cabelos
Tuas mãos deslizam ao sabor do vento
O corpo que nelas esbarra arrebatado fica
Estar perto é o único desejo
Pode alguém ser tão dependente de outro?
Tuas pernas minhas pernas nossas pernas o suor
Além do sexo em ti e em mim calmaria, barulho infernal no peito
Vontade correndo em uma só direção
Amor feroz que em mim assola, em ti paz, encanto, acalento
De ti roubo o sono, com ele me cubro,enfrento temores
Teus braços,escudo,meus braços,lança
Venha quem vier, em ti,por ti,sou guerreiro
( o inimigo desamor como cão raivoso espreita a felicidade )
Pode alguém ser tão dependente de outro?
A descoberta do beijo, flor perfumando a alma, viagem ao mundo do outro
Se é amor ou qualquer coisa que o chamem,não sei,sei que vivo

Sei que vivo em ti e em outras vidas de ti

sábado, 7 de junho de 2014

Ao cair da noite...

Apagam-se as luzes do sol
O vermelhidão que ele deixa intensifica a ânsia
A vida se foi ou começa?
A saudosa rotina do dia afasta o pensar constante
Na estrada uma lembrança fixa
Sirenes,buzinas,vozes,a pressa das pessoas,as luzes,nada distrai
Há alguém pensando em alguém neste momento,sempre tem
O pai ou a mãe que pega a criança na escola
A vontade de estar com a família
Os móveis e objetos da casa esperam alguém
O negrume da noite apavora e apaixona
Olhar de cada um
Como gastar as horas da vida?
As coisas simples aprisionam,eternizam,completam
É noite
Uma palavra,um esbarrão,um gesto,um olhar,um perfume,uma cor prendem a alma
Aquele lugar,aquela cena,aquela música,aquele instante,as mãos dadas,o abraço,o beijo...
Muitos momentos a afugentar da memória
É noite,ela caiu arrastando muito mais do que se imagina
Levou uma alma,deixou um corpo a esperar o tempo o levar
Como gastar as horas da vida?
Há alguém que vive assim além de mim?
É noite,é sempre noite no claro vazio de mim

            

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Abocado...

De boca em boca vivi na boca de mim
A boca não minha desemboca vertigens
De boca os lábios a lábia aflorando desejos
No palato um céu estrelado
Fixos planetas a vigiar a serpente
No encontro das bocas tensão
Dividindo universos serpentes coloridas
Prazer na mansidão do olhar

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Tuas lágrimas...

Vulcões incontêm magmas
Lavas escorrem na pele do rosto
Alcançam o corpo
Estrondosamente repousam no chão
Um mundo de emoções revela-se
O meu olhar em ti compadecido sofre
Teu choro meu choro nosso choro
Lágrimas a lavar a alma
A dor imensa a invadir a vida
Lembro o teu riso largo,a alegria contagiante,tua força...
Um eu desejado,admirado a contrastar com esse momento
Tuas lágrimas,símbolo de extrema força a saciar a fome de liberdade
Elas querem o mundo,querem valorizar teu poder sobre os sentires
Molham as lembranças,revivem cada instante,valorizam tudo
Tudo em ti é poder
Vês,minhas mãos acariciam teus cabelos,teu rosto,teus ombros
Meu abraço sente o pulsar forte do teu peito
Os vulcões miram-me e em tuas mãos fico

Fico a suspirar aqui no meu quarto pensando em ti

segunda-feira, 2 de junho de 2014

No espelho...

Enquanto caminho pela estrada da vida
Sigo recordando os passos dados
Mal ou não, sigo
A cada passo as emoções se confundem
Odores insistem em me acompanhar
Olho para trás,nenhum vulto
A tristeza pesa os ombros
Ninguém a me seguir
Aquele amor que jurou não me esquecer
Aquela boca a derrotar minha língua
Aquele suspiro, os ais,os talvez,os todavia
Ficaram só em mim
Quantas vezes fiquei de porre
Cometi loucuras
Passei tantas noites em claro
Ah se eu soubesse que alguém só queria  o meu sinal de vida
Quero os meus fantasmas a me perseguir
Amigos  e amigas deixei pelo caminho
( como fui egoísta,insensível... )
O meu olhar se volta para os lados
Nenhuma mão a carregar a dor comigo
A vista turva,correntes nas pernas,fardo tão grande
À frente de mim o impreciso
Sigo adiante,não tem jeito
Vejo cacos espalhados pelo chão
Formas,cores,cheiros,tamanhos
Nenhum espanto sobre eles
Pedaços do passado a oferecer uma chance
As mãos sem forças tentam recolher um a um
Uma luta feroz
A cada colagem o vigor no corpo a fluir
Será assim mesmo
Há chance para recomeçar
O mosaico em mim ganha forma
Bem lá no fundo um eu que nunca se mostrou

Viagem no vazio sem fim de mim