LÉO VINCEY - POETA,CRONISTA,CONTISTA ,LOCUTOR...


quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Metástase...

Aos diabéticos
Aos que sentem repulsa ao açucarado
Fujam todos
Não deslizem os olhos sobre estas linhas
Corre no meu sangue esse veneno
Sempre é pouco o excesso que destilo
Se de amor falei
Se por ele fui tomado
Se em algum momento ocupei tua alma
É por culpa desse sentir
Tão diverso
Que em sagazes mãos causa enlevo
Poço que se cava
E oferece brechas e nelas entro
Se o amor causa medo e a glicose te apavora
Toma uma dose do amargor que te acompanha
Aos engajados
Aos defensores de causas diversas
Se faz agora a metástase
Tragam as navalhas
No bolso a incredulidade
No peito a esperança
De fia a fio o sangue jorra
Há sempre um motivo pra lutar
O que buscam outros já pelearam
Se porventura ao teu lado estive
Se empunhei toscamente uma bandeira
Se fui apenas mais um na batalha
Lembra que também tenho sede

Minha boca o cancro vocifera

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Depois que te vi...



Sente aqui e escuta a bomba
Explodir é inevitável
Quem ama ouve o inaudível
Sensações a ocupar o corpo
Quem nunca tremeu diante de alguém
Não sentiu aquele frio
Não gaguejou,trocou as palavras,falou besteira e riu depois disso
Só de pensar no nome,deliro
Entra no peito
No canto que é só teu
Depois que te vi
Palavras foram inúteis
Só o agir interessa
Querer a dois sem solidão
Fome tátil,olfativa e gustativa enlouquecedora
Depois que te vi
Existi

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

...

Quero uma alma assim
O avesso da minha
Tão triste, tão alegre
Cheia de si, visível
Quero sentar ao lado dela
Nada a dizer e preencher o silêncio
Tão límpido e escuro
Dos nossos olhos a voz
E num gemido rouco
A queda num corpo que nunca quis




quinta-feira, 21 de agosto de 2014

...

Multiverso em mim
No teu reverso
No amplexo enfim

Eu me disperso

Entrementes...

Guardo os meus olhos para ti Desilusão
Amiga insaciável,companheira fiel
Dos sonhos que acalento ao vento
No correr das horas a se passar por mim
A ventura toma conta da minha face
Zomba ,pragueja,avilta a ti Desilusão
Desilusão de ti não largo,essa é a sina
A dor de uma vida em desgraça
O torpor da ausência de amor
A solidão da companhia de íntimos estranhos
A minha boca entrego a ti Desilusão
Confessora dos ditos e não ditos a preencher o silêncio
Nela a serpente maldita a lamber o ódio e a destilar veneno
Veneno a alimentar pesadelos e nutrindo rancores
Minhas mãos são tuas,cada gesto,cada toque
Por ti a vida faz sentido

Entrementes

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Concepção...

Diante de vós uma criatura se plasma
Em pele e osso e adereços
Nos corações adentra
Alenta a chama e queima
Fogo a consumir sentidos
Fala em língua morta
A língua fênix
Sons do antes do antes
Escutai a concepção
Sob várias formas
Pelo universo se espalha
Entidade a comer solidão do outro
No outro a porta aberta
Estrada  emaranhada
Diante de vós o espelho



quarta-feira, 13 de agosto de 2014

A invenção do eu...

Espalham-se sobre mim
Em cada poro
Em cada célula
Nos mais recônditos cantos
Seres a ocupar corpo fadado a apodrecer
Românticos decadentes, ingênuos, ardentes, profundos e de toda a sorte
Idealistas beócios
Satíricos a rirem do próprio destino
Mártires sem causa
Homens de sucesso e fracassados em busca de glória
Mulheres a esperar um alguém que nunca vem
Religiosos a incorporarem entes diversos
Michês  contumazes
Ninfomaníacas  degustando o ar
Deuses de outros universos
Todos me abduzindo
Invadindo uma vida inventada
Um mundo criado à forma do criador
E eu espectro a perambular por aí
Aos olhos dos outros
Descubro que fui inventado
Um deles em mim me sangra
A respirar nesse instante
Um eu que tenta ser
Apenas ser
Mais nada



terça-feira, 12 de agosto de 2014

Estou aqui...

Nas páginas de minha vida escrevo agora
Nelas um nome ecoa ao infinito
Estremecem ao som de cada fonema
Amor Amar, desejo de todos
Ele está aí sob todas as formas
O que procura?
Não há que contentar-se com tão pouco
O amor, imensidão
Dana sempre a razão
Não existe equilíbrio
Ou Amor ou Razão
Por ele sou tocado
E tudo em mim vibra ao pronunciar o nome
Invencível, é assim que se sente o ser
Nada mais importa
Da varanda te vi passar
Rendi-me por completo
Na lordose de nós,retidão

Valsa de amor profundo

sábado, 9 de agosto de 2014

Caminhada...

Na busca da fruta do infinito
Carcaças caminham formando multidão
Seguem tal qual gado
Conscientes do corte cedo ou tarde
Atiram-se no abismo de si
Voam muito sem nunca quedar
O chão não existe
Apenas a idéia do fim que nunca chega
Nunca chega nunca chega
D a fruta jamais comem
Dentro dela uma larva dana a zombar
Quem plantou a árvore?
Quem plantou quem plantou a árvore?
Nesse mistério sem resposta
Com fé prosseguem conformadas
No estômago da larva
O meu eu se alimenta
Consciente
Mente
Consciente
Mente
Consciente

Mente...         

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Desencontro...

Quando os nossos olhos se encontrarem
Depois de dezenas de insistências
Inúmeros contratempos
Depois da ansiedade perder a razão
Haverá apenas uma lembrança um gosto um sonho um talvez imaginado
O Amor me devora no agora e no sempre do desejo
No ir e vir da vontade
Clausura-se o sentir
Definhando corpo alma coração
Nas palavras asas cortam distâncias
Do querer e não querer
Como navalhas tatuam o meu silêncio
No grito forte que singra a tua boca
Destilo a verdade translúcida

És anzol,eu,isca

...


Meus olhos deslizam
Sobre a página
Em busca do eu
Na curva da vida
A barreira do outro
A um quarteirão de mim
Enrosco os olhos na direção do alvo
Acerto  no nada
O mistério em mim


quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Visões...

Dentro do meu olho
Um outro olho
Olho a paralisar
Esquadrinhando        
E milhões de olhos
Mirando em mim mundos submersos
Nado em mim em nada
Fora do meu olho
Um outro olho
As mãos querendo tocar
Olho nos olhos dos olhos
Íris a pupilar em cores
No azul de minha cegueira


Aquilo...

Sentir com a imaginação e o coração
As palavras no papel se firmar. Sim.
Tudo o que vivo no meio do caminho  finda ou falha
Tal qual o desejo no olhar do outro que é meu
E que não disse
E que pouco me esforcei
Esse outro é o eu realizado.
Dizem que o que escrevo vivo
À margem de mim
Preso ao encanto do meu eu que não se mostra
Sinto?
No papel ou na tela alguém mergulha

Sentirá?

O voo...

Minh’alma de meu corpo se desprende
Na escuridão vagueia
A luz o túnel os outros o nada o eu idéia
Mergulho nas memórias dispersas
O crescer a tristeza a solidão as alegrias o desnascer o amor o nascer
Imagens a povoar o caminho
Nesse lugar inventado
No antes de mim
Uma vontade
Na penumbra da viagem
Uma mão a outra mão o horizonte o olhar perdido
No fundo bem no fundo
O vôo vôo sem asas a esbarrar o mito
No que há além
Além
O oco em mim só tem um lado
O vivo
Vivo a olhar o ponto
Fim ou começo

Mistério