LÉO VINCEY - POETA,CRONISTA,CONTISTA ,LOCUTOR...


segunda-feira, 31 de março de 2014

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Gritam em mim sons dissonantes
Ciranda a calar o silêncio
Repleto de mundos o olhar
No balé das notas um sustenido sem dó
A solfejar um bemol a boca amarela
Semitonando as dores
No olhar o dedilhar nas cordas, sopro dando vida aos metais
No enroscar das notas
Vibrato a sacudir a alma
Sons dentro e fora de mim
Orquestra bizarra no pentagrama da vida
Alívio da música em mim
Dis
Son
Ante...



segunda-feira, 24 de março de 2014

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Traga este olhar deslumbrado
O sorriso maquiado
Gestos orquestrados pela convenção
Tua dança frenética de passos calculados
A hipocrisia, alimento diário
Diante do espelho, janela de todos
Senta  
Contempla longamente a fissura
Mundos indescritíveis te espera  
Não temas     
Multiplicou-se Narciso
Do outro lado um eu
O teu eu
Leva esse olhar perdido
O sorriso coxo
Gestos insignificantes, mofados
Os pés carcomidos pelo mesmo chão
Da verdade a fome insaciável
Dentro de ti outro espelho
Mais larga a fissura
Fuja da comoção
Pela fissura vozes seduzem
Já não há mais tempo
No espelho um olhar chora

Traga este olhar deslumbrado...

sexta-feira, 21 de março de 2014

Por ti...

Tomado pela emoção que provocas em mim
Dessa incontrolável, movida pelo que chamamos de amor
Amor que me despertas e me deixa a suspirar sem fim
Sentei-me na tentativa vã de te escrever com ardor

Ardor esse que me faz titubear nas palavras
Volver ânsias de infantes adolescentes e ser invadido pelo desespero
Querer tudo sem medidas, sem planos, coração na boca, no peito o tempero
O amor calmo, previsível,  ejeto-o de mim, desse amor tu me livras

Se eu disser que foi teu beijo, teus abraços, teu corpo, tua voz, tua respiração...
Será lugar-comum, artifício de quem é conduzido por essa sensação
Aqueles que de amor não falam, por opção, por considerar expressar isso fútil
Não os recrimino, quero me sentir assim, cheio de clichês, amo-te mesmo depois de senil

Adoro quando chegas e me pegas pelos braços e com carinhos me levas às alturas
Quem não se sentiu assim, o mínimo que fosse ignora prazer tão imenso
Doce querida, o amor é gentil, entregue a ele, confesso tudo em minhas juras
A cada momento ao teu lado verás que nele sou intenso


...

Eis que o além te espera
O além da tua espera
Já enviou sinais,promissórias,aviso prévio...
Tua parcela vencida
Vida, bem ou mal vivida,és vida
De ti ir quero antes
Cronômetros desiguais na mesma partida
Nas mãos dadas teu olhar além
Aquém de mim, as vontades
Ombro a ombro os passos
Meu olhar em ti a flutuar febre nas palavras
Do outro lado ( se é que há ) escuridão
Fechar dos olhos abertos
Areia do tempo a medir os invisíveis
Eis que o além te abraça
Em minhas mãos as tuas mãos num abraço firme
De tudo o que ficou e vai
Metade de mim em ti
Eis que o além me espera
Oração de todo santo longo dia



quinta-feira, 20 de março de 2014

Ao som do coração...

Ando lado a lado com  um inimigo
Imprevisível conduz-me por solos áridos
Brisa leve momentânea a refrescar a fronte
Tremor a ritmar os passos
Açoita os sonhos
Encarcera os alívios
Na boca uma pontinha de querer
Se mais ou não
Dele não desfaço
Colado em mim
Protótipo imposto
Quero-o fora de mim
Aberração tê-lo
Dono de mim dita as regras
Não há lei em seu domínio
Bandoleiro de mim
Sangro eternamente
A cada sentir um som
Demência diagnosticável
Um campo de flores avistado
Caminhar lento,solo fértil,passos pesados
O inimigo sorri de ( para ) mim
Ecoam últimas batidas
Da ausência a dor na caminhada
Nas pegadas o pulsar do coração

Pelo caminho as lágrimas

quarta-feira, 19 de março de 2014

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Olhos abri num mundo verde
No chão de tábuas meus joelhos arrastava
A rede embalava meus sonhos
Uma santa me protege
Bárbara de minha vida
Na correnteza de mim, uma ladeira
Chão molhado, balde na cabeça, mãe gritando : - “ Cuidado menino !! “
Tempo bom
Ingá
Tucumã
Bodó de farinha
Chibé
Pupunha
Chá de capim santo
Manga
Cobra cipó
Igarapé
Amigos
Quantas piabas para aprender a nadar
Até hoje me afogo
Lembranças...
A ladeira em mim ondula e de vez em quando me joga no passado
Viagem da memória




terça-feira, 18 de março de 2014

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No abraço apertado de nós
Explosões de emoções
Que dizer daquele beijo invadindo a alma?
O cheiro de ti impregnado na memória
Nos lençóis
Nos ais
Que fazer com esse filme reprisado a todo instante?
Ainda sinto os teus braços no meu corpo
Os nós dos corpos, guerra e paz
Vês o que fazes em mim?
Refém de ti
Refém de mim
No abraço apertado de nós
O não eu
O não tu
Ditando o não, o nós
Em nós, ninguém
No abraço apertado de nós


domingo, 16 de março de 2014

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Vivo em busca do futuro
O agora é passado
Presente impalpável da vida
No encontro de mim, solidão

Medo constante

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Quando o meu corpo se desprender de mim
Num ato insensato, sem aviso prévio
Saudoso dos abraços do traçar da vida
Não lamente a sua partida
Lama
Alimento
Abrigo
Esquecimento ele é
O que há além?
Pergunta incessante
Só sei vaguear


quarta-feira, 12 de março de 2014

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Um corpo vaga
Nas avenidas, becos, ruas, vielas
Onde houver multidão
Um corpo sem alma
Nada sente
Nada o toca
A tudo, indiferente
Esbarrou em mim
Nos estranhamos
Uma luta feroz se travou
Tentativas de possessão
Sangue no chão
Na parede
Em mim
Um urro ensurdecedor
Silêncio...

Minha alma ilesa seguiu seu rumo

terça-feira, 11 de março de 2014

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É chegada a hora,luzes a brilhar ao longe-perto
Caminhar nunca foi tão difícil
Voam na bagagem da memória lembranças...
Infância, descoberta de mundos, crença no melhor de nós
Desvendar dos olhos para uma visão míope
Esperança na teimosia do viver
Amor, ah ,por que insistem nisso, nunca o conheci
Beijei bocas no afã de me encontrar
Perder-se, sensação indescritível
Pedaços de mim pelo caminho
Em muitos corpos, em muitas almas
Nas línguas  ferinas, abrigo
A luz se aproxima, momento inevitável
Meus olhos não esperam surpresas
Desprender-se de mim
Alçar vôos
Pra onde?
Pra onde?
O nada no horizonte
Asas atraídas
Começo de mim?
Olhos ansiosos me recebem

Será?

sábado, 8 de março de 2014

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Meu teto é o tempo
O cobertor é o céu
Minha passarela é o nada
Em mim não há morada
Movediço, o toque é fatal
Nas construções, muros, paredes...
Até no ar estou
Invisível  caminho nos olhos indiferentes
Uso perfume barato
À venda em qualquer esquina
Ou desses jogados fora,  recolhido do lixo
Minha alma apavora a mesmice
Meu corpo disforme dissolve no teu olhar        
Sou feito de areia
Incômodo nos teus sapatos
Tuas mãos me afastam de teus ombros
Outras mãos me jogam em tua última morada
Vermes, irmãos de todas as horas procriarão na tua podridão
Meu teto é o tempo
O tempo não me consome
Não há como fugir
Meu cobertor muda de forma
Minha estrada é o  vazio

O olhar do teu umbigo

quinta-feira, 6 de março de 2014

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Só é um sentir marejar dos olhos
Tuas mãos a tatear meu corpo
Tal qual topógrafo a dividir feudos
Em minhas linhas
Em tuas linhas
A geografia do acaso
O sol em ti, o frio em mim
Magma dos nossos ósculos
Rios de vida a fervilhar na pele
Entrega às cegas da boca instruída pelo cachimbo
A sede intensa do crescente em mim
Em todas as fases a lua em ti
Do amor e dos ais
Fome sem fim
Os nós
Os pós
Os só( i)s
A gra(n)de força do teu sorriso
A libertar de mim

Um eu a se construir...

terça-feira, 4 de março de 2014

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No princípio era o Nada
O Silêncio se fez presente
No acústico em mim uma sombra
Na vertente das células um defeito
Trevas assumindo formas
Na forma uma bomba
Explosão constante a evoluir
O defeito se tornou luz
Luz invadindo, destruindo, atraindo, dominando
Luz e Trevas dividindo o ego
Fluente, fluida sombra em mim caminha
Silêncio expandindo domínios
Gritando, criando mundos e abismos
No meio da jornada houve um Quase
Quase
Amor
Felicidade
Sonho
Amigos
Esperança
Em quase uma vida transformada

No fim o Nada, o Silêncio, a Sombra e eu...

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Um som irresistível se ouve
Cada vez mais perto
Transmite calmaria, cativante, sedutor
Fugir, impossível
Cronometra a vida
Bocas felizes a comemorar
Corpos suados, frenéticos ritmos a atravessar o dia
Passos lentos são notados
Cadência de um motor desritmado
O som agora ocupa todo o ambiente
Aos poucos vai enlouquecendo
Corpos se contorcem
Línguas o chamam, desejam-no
Calmamente ele domina
Morfina para a alma
Em mim a música, o ritmo, o medo, a coragem...
Esse som, companheiro a me dar as mãos a todo instante
Solitário tal como eu
Viu lágrimas que colecionei
Zombou dos parcos risos
A ti já sussurrou ( imagino )
Respira um pouco, escuta o som do teu coração
O som da morte nos acompanha
 O além dele, inventado

           


sábado, 1 de março de 2014

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Quando os teus olhos se perderem dos meus
Nos deslizes da estrada incerta
Andando à esmo, de boca em boca os gostos
O coração cada vez mais estilhaçado
Se surgir a vontade da vida partir
A dor for extrema, as forças não ter e nada puderes fazer...
Se meus olhos se perderem dos teus
Na gangorra infernal do sentir
Nos zigue zagues dos braços e abraços
Enchendo o vazio com o vazio de mim
Não te preocupes
Nossos olhos vesgos na vesga vida
Ainda há muito chão a trilhar
Os teus olhos são teus
Quero-os
Tomo-os
Somos espelhos fugindo do espelho quebrado em nós
Em minhas cinzas a trilha se repete
Sabor de tua boca a perseguir, aprisionar,a libertar
Solidão nos consumindo
Amor ?
Ilusão a nos mover

Na varanda da memória uma paisagem amarelada